Me permiti viver algo que só consigo viver através do sono,
dormir e sonhar com algo que possa atravessar a minha casca de medo.
Experimentei sentir aquilo que eu duvidei que pudera sentir, aquilo que eu já
estava descrente que aconteceria. Uma dúvida, um medo, uma desesperança.
No meio do processo descobri que meu coração não é feito de
lata ou luto, é apenas algo machucado, mas já cicatrizado. Descobri que é
possível me sentir vivo fora dos sonhos.
Mas como tudo na vida...foi um sentimento e vivencias findas.
Durou alguns dias para que eu pudesse colocar a minha consciência contra a
parede. O medo, a doença, os traumas...tudo isso ainda é forte demais para que
duas pessoas se sintam à vontade mesmo tendo afinidades.
Descobri que compatibilidade não é tudo. Descobri que ter
uma segunda chance pode não significar nada. Às vezes tudo é apenas o momento:
você precisa ser estar num equilíbrio. Você pode conseguir visitar várias
estrelas, mas se você não estiver apto para ver a beleza disso, você não vai ver.
É como saber nadar no oceano, mas não conseguir tocar a água.
Com o passar do tempo algumas cicatrizes tendem a firmar.
Elas ficam ali, as marcas são visíveis, inesquecíveis, mas você aprende a
conviver com elas, de tal modo que o único incomodo foi não ter conseguido
superar antes, mas tudo bem...
Várias pessoas vão passar pela sua vida, algumas não dignas
de sua convivência, de seu amor e tempo, mas você vai gastar sua pouca gota de
tempo nelas. Enquanto isso...pessoas boas e raras vão cruzar seu caminho sem
que você perceba, e se perceber, você já vai ter queimado todas as suas
chances. É, a vida não é justa, e as vezes nós também não somos.
Um dia...em algum momento do futuro, sentado em algum canto
sem luz, você vai lembrar das vezes em que esteve perto da felicidade, mas que
seu medo te jogou pra fora daquilo. Mas...tudo bem, não era hora.
É triste o pensamento sobre como tudo tem um fim. Nós só
queremos o fim da dor, mas o que mais nós fazemos é por fim em coisas boas,
coisas essas que estavam apenas no começo. Nós não temos medo de acabar com
isso, mas temos medo de não começar.
O medo é um mecanismo de defesa, é algo que tenta nos
repelir de algo ruim que pode acontecer, mas tem um efeito colateral: ele pode
expulsar oportunidades boas...e as vezes até únicas.
Seja como for...não há controle. Não há um passo adiante. Não
somos e nem podemos ser de ferro. Não podemos evitar o incomodo de ter medo de
machucar as pessoas: as vezes isso é se importar.
A felicidade e a tristeza parecem estar bem próximas uma da
outra. É como uma moeda de duas faces...
Muitas vezes vamos derreter todas as chances por querermos
recuar.
É triste. Mas é necessário aceitar a fraqueza, a tristeza e
tudo que vem com elas. A felicidade é sim uma coisa rara, talvez a maioria de nós
temos consciência disso, o que não significa que vamos conseguir dar o devido valor
a isso.
Nada é seguro. Toda escolha tem uma porra de um risco... O
único jeito de saber sobre a dor, é não ter medo de poder senti-la, as vezes
vale a pena correr risco, mesmo que no final das contas seu coração fique com
um buraco.
